Desde que ouvi falar do Jalapão, esse destino selvagem e quase intocado no coração do Brasil ficou no topo da minha lista de viagens. Paisagens surreais, fervedouros de águas cristalinas, cachoeiras de tons esmeralda e estradas de terra desafiadoras — tudo isso prometia uma experiência única, repleta de aventura e conexão com a natureza.
Escolhemos dezembro para embarcar nessa jornada, mesmo sabendo que era um período de chuvas, o que poderia tornar as estradas ainda mais complicadas. Mas a expectativa de ver o cerrado vibrante e os rios com volume máximo superou qualquer receio. Sabíamos que seria uma viagem intensa, e estávamos prontos para encarar o que viesse pela frente.
Nosso ponto de partida foi Palmas, onde chegamos de avião e alugamos um carro. E aqui começa o primeiro desafio: o veículo era um 4×2, ou seja, não era o mais recomendado para as estradas arenosas do Jalapão. Mas com planejamento e cautela, estávamos confiantes de que daria certo — ou pelo menos, esperávamos que desse!
Após a chegada, a primeira noite foi no Hotel Hplus Premium Palmas, um respiro de conforto antes da jornada que nos esperava. Aproveitamos para descansar, pois sabíamos que os próximos dias seriam de muita estrada, aventura e paisagens inesquecíveis. Mal podíamos esperar para cair na estrada rumo ao Jalapão e descobrir se toda aquela beleza realmente fazia jus à fama. E posso adiantar: superou todas as expectativas! 🚙🌿✨
Neste post …
A Primeira Imersão: Cânion Sussuapara, Lagoa do Japonês e Pedra Furada
Por questões de trabalho passei o dia no hotel. Pouco mais de 16.00h. pegamos a estrada rumo ao tão esperado Jalapão. Mal tínhamos saído de Palmas e já percebemos o que torna o Jalapão único. Seguimos pela Rodovia Estadual TO-010 e é uma das estradas mais cênicas do Tocantins. Atravessando a Serra do Lajeado admirávamos paisagens deslumbrantes ao longo do percurso. Durante nossa passagem por essa rota, fomos presenteados com vistas incríveis da vegetação nativa, formações rochosas imponentes e o céu que parecia se estender infinitamente.
Ao longo da TO-010, existem várias cachoeiras que são verdadeiros refúgios naturais, mas, infelizmente, não conseguimos visitá-las devido ao horário. Entre elas, destacam-se a Cachoeira da Roncadeira, conhecida por sua queda impressionante e acesso por trilha, e a Cachoeira do Escorrega Macaco, um paraíso cercado pela vegetação do cerrado. Ambas são opções imperdíveis para quem busca aventura e contato direto com a natureza.
Era início da noite quando chegamos na Pousada Águas do Jalapão, um lugar incrível que tem como ponto forte a conexão com a natureza. Por lá desfrutamos das piscinas e do ofurô de águas naturais.
No dia seguinte, após um café da manhã delicioso pegamos a estrada e não muito longe dali, nossa primeira parada foi no Cânion Sussuapara, um verdadeiro refúgio escondido entre as formações rochosas do Jalapão. Assim que entramos no cânion, fomos recebidos por um ambiente úmido e fresco, um contraste delicioso com o calor do cerrado. As paredes estreitas, cobertas de musgo e pequenas quedas d’água, criavam uma atmosfera quase mágica. Caminhamos pelo leito de areia até a pequena cachoeira, onde aproveitamos para nos refrescar e tirar fotos. O barulho da água ecoando pelas pedras dava um toque especial à experiência.

De volta à estrada, seguimos para um dos lugares mais esperados do dia: a Lagoa do Japonês. Esse era um daqueles cenários que a gente vê em fotos e pensa que deve ter algum filtro… Mas ao chegar, ficamos boquiabertos com a cor surreal da água. Um tom esverdeado cristalino, quase hipnotizante. Pegamos nossos equipamentos e mergulhamos. O fundo da lagoa tem formações rochosas submersas que parecem esculturas naturais, e a visibilidade era incrível. Entre um mergulho e outro, curtimos o silêncio do lugar, que transmite uma paz indescritível. Ficamos ali por um bom tempo, aproveitando cada segundo daquele paraíso escondido.

No fim da tarde, seguimos para a Pedra Furada, um dos cartões-postais do Jalapão. Essa formação rochosa impressionante, esculpida pelo vento ao longo de milhares de anos, serve como um mirante perfeito para o pôr do sol. O plano era terminar o dia ali, assistindo ao céu se tingir de tons alaranjados enquanto o sol desaparecia no horizonte. Mas, como nem tudo sai como planejado, o tempo começou a fechar, e as nuvens roubaram o espetáculo. Ainda assim, foi um momento incrível. Sentados sobre as rochas, sentíamos a energia do lugar e a imensidão da paisagem ao nosso redor.
Depois de um primeiro dia intenso, era hora de descansar. Retornamos para a Pousada Águas do Jalapão, nossa hospedagem para a noite. A pousada tinha aquele charme rústico, com quartos simples, mas confortáveis, e uma vibe acolhedora. O jantar foi caseiro e delicioso, e enquanto trocávamos histórias com outros viajantes, a ficha começou a cair: estávamos, de fato, no Jalapão. E aquela tinha sido só a primeira amostra do que nos esperava nos próximos dias.
O Paraíso dos Fervedouros: Alecrim e Jatobá
O segundo dia começou cedo. O café da manhã foi reforçado, porque sabíamos que o dia seria longo e cheio de aventura. Nosso destino era São Félix do Tocantins, onde conheceríamos alguns dos famosos fervedouros do Jalapão. Mas antes de qualquer mergulho nas águas cristalinas, precisaríamos encarar mais um desafio: as estradas arenosas.
Seguimos viagem e, a cada quilômetro percorrido, o trajeto ficava mais complicado. Apesar da pavimentação em alguns trechos, a areia fofa tornava a condução do carro 4×2 uma verdadeira batalha. Era preciso manter a aceleração constante para não atolar, mas sem exagerar, para evitar derrapagens. Havia momentos em que parecia que o carro estava afundando, e o coração acelerava junto com o motor. Apesar do desafio, a paisagem compensava: vegetação típica do cerrado, formações rochosas impressionantes e uma imensidão de natureza intocada.
Nossa primeira parada foi no Fervedouro Alecrim, um verdadeiro oásis escondido no meio da vegetação. Ao entrar na água, veio aquela sensação indescritível de flutuar sem esforço. A pressão da nascente subterrânea impede que o corpo afunde, criando uma experiência única. A água cristalina, com tons de azul e verde, refletia o sol de um jeito hipnotizante. Passamos um bom tempo ali, relaxando e aproveitando aquela beleza surreal.
No caminho até o próximo fervedouro, fizemos algumas paradas nos pequenos vilarejos da região. A simplicidade do Jalapão é encantadora. Encontramos moradores vendendo artesanatos feitos de capim-dourado, uma tradição local. Conversamos com alguns deles e ouvimos histórias sobre a vida na região, os desafios da seca e a alegria de receber turistas que valorizam aquele paraíso escondido. Foi um momento especial, que nos fez sentir ainda mais conectados com o lugar.

Seguimos então para o Fervedouro Jatobá, um dos mais bonitos que visitamos. Cercado por bananeiras, o cenário parecia saído de um cartão-postal. A água cristalina ainda mais impressionante, que contrastava perfeitamente com o verde ao redor. A experiência de flutuar ali foi ainda mais especial por conta do silêncio absoluto, interrompido apenas pelo som dos pássaros e do vento nas folhas.
O dia passou voando, e logo chegou a hora de retornar à Pousada São Félix do Jalapão. O cansaço da estrada e dos mergulhos revigorantes bateu forte, mas era aquele tipo de exaustão boa, que vem depois de um dia bem aproveitado. À noite, aproveitamos a tranquilidade do lugar, ouvindo os sons da natureza e relembrando cada detalhe do que vivemos.
O Jalapão estava nos conquistando a cada dia, e a sensação era de que a viagem só ficava melhor. Com a mente leve e o coração cheio de gratidão, dormimos sabendo que a próxima etapa nos levaria a lugares ainda mais incríveis.
Cachoeira do Formiga e a Frustração nas Dunas
Saímos cedo de São Félix do Tocantins rumo a Mateiros, já sabendo que esse seria um dos trechos mais desafiadores da viagem. As estradas de terra do Jalapão não são fáceis, mas esse percurso elevou o nível. A areia fofa parecia nos engolir em alguns momentos, e, com um carro 4×2, qualquer descuido poderia significar minutos (ou horas!) tentando desatolar. Redobramos a atenção e seguimos no embalo da estrada, aproveitando a paisagem exuberante ao redor. O cerrado se estendia a perder de vista, com montanhas, árvores retorcidas e uma imensidão de natureza selvagem.
Nossa primeira parada do dia foi em um dos lugares mais esperados da viagem: a Cachoeira do Formiga. E que surpresa maravilhosa! Assim que chegamos, já ficamos encantados com a cor da água, um verde-esmeralda tão intenso que parecia ter sido pintado à mão. A cachoeira em si não é grande, mas a beleza do poço formado por ela é indescritível. A água tinha uma temperatura perfeita, nem quente, nem fria demais. Ficamos um bom tempo ali, aproveitando aquele cenário paradisíaco.

Após um mergulho revigorante, seguimos para outro ponto alto da viagem: as Dunas do Jalapão. A ideia era chegar a tempo de assistir ao pôr do sol, um dos mais famosos do Brasil, com as dunas douradas contrastando com o céu avermelhado. Por regras locais do parque, havíamos combinado com um guia local que nos levasse até lá. No entanto, ao longo do caminho, percebemos que as nuvens começaram a se formar no horizonte. Ainda havia esperança de que o tempo abrisse, então seguimos animados.
Ao chegar, a beleza do lugar era inegável, mesmo com o céu nublado. As dunas, gigantes e imponentes, formavam um mar de areia dourada que se estendia até onde os olhos podiam alcançar. Subimos até o topo, aguardando o momento mágico do sol se pondo… mas ele não veio. As nuvens cobriram completamente o céu e uma chuva refrescante desabou sobre nossas cabeças, e o espetáculo de cores que imaginamos ficou apenas na nossa expectativa.
Foi um pouco frustrante, confesso. Mas, olhando ao redor, percebi que o Jalapão não precisava de um pôr do sol perfeito para ser incrível. A sensação de estar em um lugar tão remoto e especial já eram motivos suficientes para apreciar aquele momento. A natureza tem seu próprio ritmo, e cabe a nós aprender a aproveitar cada instante, independentemente do que planejamos.
Com essa reflexão, seguimos para a Pousada Maré do Cerrado, nossa hospedagem da noite. Era uma opção mais simples do que as anteriores, mas a única disponível, já que Mateiros estava lotada de viajantes. Depois de um banho rápido, fomos jantar no Mama Cadela Bar e Restaurante, um lugar super aconchegante, com um clima rústico e comida deliciosa. Pedimos Pirarucu ao Molho de Cagaita, um peixe amazônico incrível, preparado de maneira impecável. Foi uma experiência gastronômica que fechou o dia com chave de ouro.
Apesar do pôr do sol frustrado, o dia foi inesquecível. O Jalapão continuava nos surpreendendo, e cada nova parada trazia uma descoberta única. Mal podíamos esperar pelo que ainda estava por vir.
Virada do Ano Mágica e Despedida do Jalapão
Os últimos dias da nossa viagem ao Jalapão chegaram, e a sensação era um misto de gratidão e nostalgia antecipada. Depois de tantas estradas de terra, mergulhos inesquecíveis e desafios na areia fofa, estávamos prontos para fechar essa aventura com chave de ouro. Nossa última hospedagem foi na Pousada Bela Vista, um lugar especial por um motivo muito particular: ela abriga o Fervedouro Bela Vista, um dos mais bonitos e bem estruturados da região.
Ao chegar, foi impossível não ficar deslumbrado com a paisagem. O fervedouro com água cristalina é cercado por uma vegetação vibrante. Flutuar ali, sentindo a força da nascente borbulhando sob os pés, foi um momento de conexão pura com a natureza. Parecia um presente do Jalapão para encerrar a viagem em grande estilo.

Durante o dia o fervedouro é frequentado pelos turistas que que contratam o pacote de agências de turismos localizadas na capital Palmas. No entanto, estes turistas não se hospedam na pousada, então o uso do fervedouro para os hóspedes é permitido entre 18.00h. e 08.00h. Ainda assim, vale muito a pena.
E o melhor ainda estava por vir: passaríamos o Réveillon ali, em meio à natureza. A celebração foi com uma energia única. Nada de fogos estrondosos ou festas badaladas, apenas o céu estrelado, boas companhias e o som da natureza. Fizemos um brinde, relembramos os melhores momentos da viagem e agradecemos por estar ali, naquele lugar mágico, dando boas-vindas ao novo ano de uma maneira tão especial. Era como se o tempo tivesse desacelerado, permitindo-nos absorver cada detalhe daquele momento.
No dia seguinte, começamos o caminho de volta, mas com algumas paradas estratégicas. A primeira foi no Fervedouro Por Enquanto, um nome curioso para um dos fervedouros mais tranquilos da viagem. Ali, tivemos nossa última experiência de flutuação no Jalapão, aproveitando aquele instante de relaxamento antes de encarar o longo percurso de retorno. Foi como uma despedida suave, um último abraço da natureza antes de partirmos.
No dia seguinte, começamos o caminho de volta, mas com uma parada estratégica na Serra da Catedral. Uma formação rochosa impressionante que lembra a estrutura de uma catedral, com suas curvas imponentes esculpidas pelo tempo. De longe, a montanha parecia um guardião silencioso do Jalapão, observando as idas e vindas dos viajantes. Ficamos um tempo ali, admirando a paisagem e refletindo sobre tudo o que vivemos nos últimos dias.

O Jalapão não é um destino qualquer. Ele exige paciência, resistência e disposição para encarar estradas desafiadoras, mas recompensa com paisagens únicas e experiências inesquecíveis. A cada dia, fomos surpreendidos pela força e beleza da natureza, pelo calor humano dos moradores locais e pela sensação constante de aventura.
Ao pegar a estrada de volta para Palmas, já sabíamos que essa não seria uma despedida definitiva. O Jalapão nos marcou profundamente, e o desejo de voltar um dia já estava plantado. Porque certos lugares não são apenas visitados — são vividos, sentidos e guardados no coração. E o Jalapão, sem dúvida, se tornou um desses lugares para nós.
O Jalapão e as Memórias que Levamos
O Jalapão nos presenteou com dias intensos, cheios de desafios, descobertas e momentos inesquecíveis. Desde a sensação única de flutuar nos fervedouros até o mergulho revigorante na Cachoeira do Formiga, passando pela imensidão das dunas e o Réveillon mágico sob um céu estrelado, cada experiência nos deixou uma marca especial.
Se tivesse que fazer algo diferente, sem dúvida, alugaria um carro 4×4. Embora nosso 4×2 tenha dado conta do recado (com muito cuidado e algumas tensões pelo caminho), um veículo mais preparado teria nos poupado esforço e deixado o trajeto menos desgastante. No entanto, essa aventura nos ensinou sobre resiliência e planejamento, mostrando que, com determinação e respeito pela natureza, tudo é possível.
O Jalapão é um destino para quem ama ecoturismo e aventura. Mas, acima de tudo, é um lugar que exige respeito. Seja na preservação dos fervedouros, no cuidado com o lixo ou na valorização da cultura local, cada viajante tem um papel fundamental para manter essa região tão especial.
Para quem ainda está na dúvida sobre encarar essa viagem, só tenho um conselho: vá. O Jalapão pode ser desafiador, mas a recompensa é imensurável. É um lugar que nos ensina a desacelerar, a admirar as belezas simples e a nos conectar profundamente com a natureza.
Saímos dali diferentes de como chegamos. Com a alma renovada, a mente leve e a certeza de que o Jalapão não foi apenas um destino, mas uma experiência transformadora. 🌿✨